terça-feira, 1 de agosto de 2000

A INFORMÁTICA COMO INSTRUMENTO DE PODER.


A INFORMÁTICA COMO INSTRUMENTO DE PODER.




Paulo do Eirado Dias Filho

Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe

eirado@infonet.com.br





Palavras-chave: Internet; revolução tecnológica; redes abertas; sistemas abertos; informática; poder da informática; segurança da informação; fraudes eletrônicas.



Resumo:

A invenção da imprensa possibilitou a veiculação de pensamentos Iluministas causadores de mudanças em todo o ocidente. Dentre estas mudanças destaca-se a Revolução Francesa que inspirou a formação de governos dotados dos três poderes, executivo, legislativo e judiciário.

A cibercultura produz mitos, e pode ser mais um fator de exclusão na medida que seu acesso está restrito a poucos. Os sistemas abertos ganham espaço e grandes organizações já adotam por segurança e vantagem financeira.

A Internet traz novos benefícios e novos males. Assim aumenta-se a responsabilidade social dos cientistas da computação, empresários do ramo e gestores de Informática pública e privada. Vive-se um vácuo jurídico posto que a Internet desconhece limites geográficos, é adimensional. Dentro dela todos tem o mesmo tamanho. Um jovem filipino causa 7 bilhões de dólares de prejuízos com a criação de um vírus e não é punido por falta de lei.     

Que mudanças advirão trazidas pela malha de comunicações e transportes atuais. Os primeiros reflexos já se fazem sentir, positivos e negativos. Porém uma nova revolução só será legítima se as injustiças sociais de hoje forem equacionadas.

Deve-se corrigir rumos e tirar todo o proveito das novas tecnologias em prol da humanidade e seguir em direção ao futuro com segurança.  

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A difusão maciça do conhecimento e a Revolução Francesa.



De todos os progressos tecnológicos que marcaram a transição da Europa da Idade Média para o mundo moderno, o mais significativo foi a invenção da imprensa. O principal criador do processo no ocidente foi Johann Gutenberg, ourives alemão, que em 1455 concluiu seu primeiro grande projeto: uma edição impressa da Bíblia. Outros empreendedores, percebendo o potencial financeiro da invenção, abandonaram seus empregos de escribas e livreiros para se estabelecerem como impressores. No final do século (XV), cerca de mil tipografias em mais de 250 localidades já tinham publicado cerca de 30 mil edições e pelo menos 10 milhões de exemplares, enquanto se calcula que apenas 50 mil manuscritos foram produzidos durante todo o século (1). Inaugurava-se a difusão maciça do conhecimento.



Durante o decorrer do século XVIII, os ventos provocados pelo pensamento Iluminista moviam as hélices da Razão e enfraqueciam as chamas de certezas ancestrais; afirmações tradicionais sobre as autoridades dos reis, a estrutura do universo e até mesmo a existência de Deus foram colocadas em questão. Os pensadores permitiram-se discutir tudo. “Ouse conhecer!”, ordenava o filósofo alemão Immanuel Kant, expressando o espírito do século. 



Este movimento, suportado pelo invento da imprensa, logo se espalhou para além dos salões dourados e das salas de jantar. A ampliação das várias formas de educação pública permitiu que proporções cada vez maiores da população aprendessem a ler. Na França e na Inglaterra, em particular, a palavra impressa floresceu como nunca. A maioria dos adultos franceses gozava de um grau básico de alfabetização, enquanto do outro lado do canal da Mancha as bibliotecas de aluguel proliferavam, alimentando uma demanda insaciável por material de leitura. Neste ultimo país, Joseph Addison editava a revista de filosofia the Spectator, exibindo vendas de 30 mil exemplares por vez (1).



Estas novas visões dos direitos e oportunidades do homem, seriam traduzidos em ação rapidamente. Na América do Norte, as treze colônias da Inglaterra se separariam da metrópole para criar uma república. Em 1776, os revolucionários divulgaram uma Declaração de Independência em cujo texto ressoavam os preceitos iluministas. Logo depois, o Velho Mundo experimentou seus próprios levantes revolucionários.



Em 1791, em plena Revolução Francesa, a Assembléia Nacional proclamava a Primeira Constituição da França criando o Estado com três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Tal modelo viria a ser o lastro de toda estrutura sócio-política do ocidente, até os tempos atuais. A Queda da Bastilha representou menos conquista real que o esperado, porém, nada como a queda de antigos símbolos para fortalecer uma revolução. Semelhantemente, a batalha de Valmy totalizou poucas centenas de baixas, mas, tal vitória deu novo alento à Revolução, levando o cientista alemão Goethe a afirmar: “A partir deste lugar e deste dia começa uma nova era para a história do mundo. Um dia podereis dizer – eu estava lá.



Analisando a história pergunta-se: Se a invenção da imprensa permitiu o fluxo de idéias tão envolventes nos velho e novo mundos, que pensar da rede de comunicação disponível hoje?





Observações sobre o mundo atual.



-              Nossa civilização está mergulhada em tecnologias moderníssimas e sutis. Motores e chips já nem são notados. O controle remoto é acessório obrigatório, integrante até do som do carro. A produção de microprocessadores para computadores pessoais corresponde a apenas 5% do total, os demais são utilizados agregados a outros produtos tais como carros, eletrodomésticos, telefones, equipamentos industriais, etc.   

-              A humanidade nunca acumulou tanta riqueza em toda sua existência, fruto do extrativismo desenfreado sobre recursos minerais, vegetais, animais e humanos. A exaustão dos recursos naturais, sobretudo da água é fator desencadeador de mudanças profundas nas tabelas de valores individuais. O capital especulativo é centenas de vezes superior ao volume do comércio internacional, é tanto dinheiro que não tem como ir para o consumo.

-              As mulheres ocupam cada vez mais espaço em todas as áreas, e as profissões tornam-se atividades do conhecimento, quase sem ação física. Há mais leveza em tudo que se faz. A ação muscular é substituída pela automação industrial, comercial, bancaria, e até doméstica.

-              Nosso planeta é totalmente conhecido. Uma pessoa pode deslocar-se de qualquer lugar para outro na Terra em menos de 24 horas. Os transportes modernos e os meios de comunicação dão poderes inimagináveis de aproximação e encontros entre os seres humanos.  





Computador, Internet e cibercultura.



Potencialmente tem-se todas as condições para se viver os melhores tempos deste planeta. Porém estas novas tecnologias, especialmente a Internet e os computadores devem ser vistos com mais detalhes, já que prestam-se como instrumentos de poder.



O computador - Computador = calculador; computar = avaliar, contar, calcular.

Não deve-se aqui detalhar a história do computador, porém cabe citar que há cerca de 2000 anos, mercadores romanos utilizavam o Ábaco no cômputo de suas transações. No Ábaco, os números eram representados por pedrinhas de calcário denominadas “calculi”, de onde surgiu a palavra cálculo (2). Desde então diversos aperfeiçoamentos aconteceram, passando pela régua de cálculo, máquinas para leitura mecânica de cartões perfurados, máquinas eletrônicas a válvulas, grandes computadores digitais e finalmente, os microprocessadores comuns hoje. Quanto à utilização, os modernos sistemas operacionais oferecem facilidades ao usuário leigo, desmitificando a informática como ciência para iniciados. Se os motores são a extensão dos músculos, o computador é o prolongamento do cérebro humano. 



A Internet -   No início dos anos 80, através do Projeto ARPANET conseguiu-se estabilizar um conjunto de protocolos para roteamento de dados em redes autônomas (BGP 4, integrante do padrão TCP/IP). Tal projeto foi motivado por um sentimento de insegurança e relativa paranóia em relação ao risco de ataque nuclear a que estava exposta a infra-estrutura de telecomunicações das forças armadas norte-americanas, dando início ao desenvolvimento de tecnologia para redes abertas, onde redes de computadores já operantes poderiam ser interligadas sem necessidade de controle centralizado no processo de roteamento adaptativo para o tráfego de pacotes de dados. Esta tecnologia de redes com hierarquia aberta para transmissão de dados permitiu que interligações entre computadores pudessem atingir escala mundial. Assim deve-se entender a Internet como o conjunto de redes autônomas de computadores. Sua essência de certo modo está mais para uma cooperativa global de comunicação do que para uma rede mundial de computadores, seria melhor se então chamasse-se simplesmente de “a grande rede” (3).  A Internet é a extensão da fala.



A cibercultura – Uma nova economia ganha força e status decisivos ao se apropriar das tecnologias de redes abertas, num processo que se convencionou chamar de globalização econômica, caracterizada por uma espécie de desmaterialização dos produtos, pela substituição de insumos materiais por insumos cognitivos, pela proliferação de inovações e pela volatização crescente do mercado financeiro. Como descreve o economista Roberto Campos (4), o comércio eletrônico entre empresas facilita o planejamento da produção e estocagem, reduz custos de transação e distribuição, e diminui prazos de entrega. Tal reviravolta tem desafiado as leis empíricas de mercado da economia ortodoxa, valorizando a níveis astronômicos empresas que nasceram neste novo tipo de comércio, mas que nunca deram lucro. Como pode, por exemplo, um portal web que oferece serviços gratuitos de busca e espaço publicitário, a Yahoo, valer mais que a Eletrobrás ou a Companhia Vale do Rio Doce? (3).



O presidente da Sun Microsystems tem o hábito de iniciar suas palestras invocando uma frase que nos apresenta o novo paradigma da cibercultura: “o computador é a rede”. Cada vez mais os aplicativos evoluem para a componentização e a computação distribuída, em uma velocidade incompatível com o amadurecimento das complexas bases em que se assenta. Esta indústria, que do ponto de vista da engenharia está ainda em sua infância, mas que do ponto de vista econômico forma hoje o mais poderoso ramo de commodities que o homem já conheceu (3), opera num cenário de falsas necessidades, de opiniões e profecias auto-realizáveis pelos gurus que coincidentemente são dirigentes da industria de software de complexidades exageradamente crescente.  



Do ponto de vista social, a disseminação de computadores e a interligação entre eles traz mudanças de comportamentos, receios e expectativas, e inclusive os mitos das pessoas em relação à tecnologia. Por ser descentralizada, pública, e não ser controlada por nenhuma empresa ou Estado específico, a Internet faz relembrar a utopia de uma comunidade humana global, onde todos pudessem recorrer em busca de conhecimento e trocas aceleradas (5). Também são grandes os perigos a que estamos expostos como habitantes de um planeta onde o homem de um lado desvenda seu próprio código genético e de outro vive a idade da pedra em tribos isoladas na América, África, Ásia ou Oceania.





Novos benefícios:



Neste moderno ambiente abrem-se possibilidades de grandes avanços sociais e fortalecimento da democracia. Bem utilizada, a Internet será uma dádiva ao desenvolvimento educacional e sua cobertura; à inclusão social dos marginalizados; à participação direta do cidadão nos destinos políticos; ao fortalecimento dos consumidores que podem formar associações ou cooperativas de consumo que terão canais diretos com as indústrias, reduzindo riscos e marketing desnecessários. Estas possibilidades revestem o cientista da computação, o empresário do ramo, o dirigente de informática de grande responsabilidade social.



Merecem louvor todos os sites institucionais sérios, todos os que levam informações precisas ao cidadão, todos que publicam trabalhos científicos, todos que oferecem segurança e são depositários responsáveis das informações contidas em seus bancos de dados, todos que ajudam a educar, todos que favorecem a cidadania e a democracia. Neste ultimo item vale destacar o Programa Interlegis do Senado Federal (18) que torna todo parlamentar brasileiro acessível através da Internet. Também é muito positiva a disseminação dos sistemas abertos nas organizações, em especial as diversas variantes Linux e seus aplicativos.





Novos problemas:



            Apresentam-se novos problemas, uns marginais, uns institucionais, todos reais:



-              Aumento do abismo social - exclusão. No 3º mundo, exemplarmente no Brasil, a Internet está acessível apenas a uma pequena parcela da população que geralmente a vê como um clube de lazer, limitando suas possibilidades de formação, informação e cidadania. 

-              Saúde. A Internet oferece uma navegação voluntária. Paradoxalmente, embora plugado ao mundo, o usuário está frente-a-frente consigo mesmo. Todos os seus passos são intencionais e julgados imediatamente. A Internet é o exercício da liberdade, e neste universo, onde o livre-arbítrio é determinante, pessoas menos estruturadas desenvolvem “cibervícios”. Já há registros de patologias psíquicas desenvolvidas ou desencadeadas neste ambiente.   

-              Vírus. Hoje vírus que se utilizam de engenharia social, como o Melissa e o ILoveYou, podem se alastrar pela Internet em um ou dois dias, atingindo-a em cheio em menos tempo que a indústria de antivírus precisa para reagir. Vírus que conhecem o baixo nível da máquina como o Chernobyl, podem alterar a voltagem que alimenta CPU e RAM para queimá-las, em algumas placas mãe. Há uma grande desconfiança sobre a produção de  vírus, já que tais elementos movimentam uma indústria milionária de programas antivírus, permanentemente entre os mais vendidos, perdendo apenas para o Windows. Estima-se que o IloveYou, produzido nas Filipinas, provocou prejuízos de 6,7 bilhões de dólares em apenas 5 dias. Existem apenas algumas dezenas de vírus para Macintosh, e alguns poucos para Linux e outras variantes do Unix. Já para os produtos Microsoft somam cerca de 45000 (6).    

-              Fraudes e crime eletrônicos. A criminalidade relacionada ao meio digital é uma coisa nova em todo o mundo, com o agravante de que policiais e legisladores passam a atuar em um campo sobre o qual, em sua maioria, eles pouco sabem. As infrações básicas são: acesso não autorizado a informações e computadores, cópia não autorizada de software, captura de números de cartões de crédito, veiculação de imagens não autorizadas, pornografia infantil, etc. Passando inclusive pela invasão de privacidade (7). Deve-se frisar que as fraudes financeiras e comerciais geram ônus social, visto que as empresas repassam estes custos aos preços de seus produtos/serviços. O cartão cobra maior anuidade do associado e maior percentual do lojista, este por sua vez transfere ao preço do produto na prateleira que muitas vezes é adquirido por quem nem cartão de crédito possui. Assim entende-se que é simplória a idéia de que por não utilizar seu cartão de crédito na Internet o cidadão esteja livre de ser lesado.

-              Hackers. São invasores de sistemas. Não é necessariamente o jovem tímido e inteligente que se debruça no computador com a intenção de desvendar detalhes de sistemas sem obter qualquer vantagem exceto conhecimento e status. Há casos de  hacker contratado por empresas para realizar espionagem industrial em concorrentes. Há casos de invasões para proveito próprio, furtando dinheiro, cancelando dívidas, alterando resultados de concursos, etc. Também existem casos de invasões de sistemas por inexperiência ou ignorância, quando um funcionário acessa a conta de sua empresa a partir de seu micro em casa. E acessos temerosos feitos por ex-funcionários que conhecem os segredos dos sistemas da sua antiga empresa.

-              Crackers. São os que invadem computadores com a pura intenção de devastar ou os que quebram códigos de proteção de programas para distribui-los ilegalmente. Horas antes do lançamento do Windows 95 pela Microsoft, um grupo de warez (obtenção de cópia ilegal de software comercial) orgulhava-se de divulgar e distribuir sua versão final do produto antes do lançamento oficial.

-              Phreackers. Os piratas da telefonia descobriram que as centrais telefônicas utilizam freqüências especiais para diferenciar as diferentes ocorrências nas ligações telefônicas. Assim é possível atender uma ligação e simular à central que a ligação não foi completada, ou simular que a ligação ocorre de telefone público, isto é, com tarifa pré-paga. Existem programas disponíveis na Internet para estes fins. Com a telefonia celular a situação é muitíssimo pior. Estima-se que nos EUA as perdas com pirataria cheguem a 7% da receita do setor (6). 

-              Pirataria. Segundo a ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software), de cada 10 softwares comercializados no Brasil, 8 são piratas. Uma das principais causas desta estatística, segundo a ABES, é a cultura do brasileiro a respeito do trabalho intelectual. O problema da pirataria de software no Brasil é apenas um dos lados de uma situação muito mais abrangente que envolve toda espécie de violação de direitos autorais.

-              Custo do software. Os programas de arquitetura proprietária, especialmente os de larga escala de utilização, tem preços injustos e incompatíveis com a nossa realidade econômica. O lançamento de programas abertos como as diversas versões Linux, comprovam esta afirmação. São programas de qualidade e estabilidade indiscutíveis, vendidos a preços simbólicos se comparados aos preços da Microsoft. Este custo exorbitante é um incentivo à pirataria.       

-              Pornografia. O tema em si está dentro da liberdade do homem adulto. Acontecem inúmeros abusos que vão de páginas de acesso livre, a páginas com senhas que oferecem “amostras grátis” de seu conteúdo a qualquer criança visitante. Sendo o mais grave a pornografia infantil que é crescente apesar dos esforços de inúmeros governos de combatê-la. Estima-se que anualmente a pornografia na web movimente recursos da ordem de 2 bilhões de dólares, só nos EUA (6).

-              Extremismos. A Internet serve de meio para difusão de fanatismos religiosos, nazismo, racismo, torturas e práticas terroristas. Representando claro atentado à dignidade e direitos humanos.

-              Segurança. Semelhante à qualidade, a segurança deve permear toda a concepção e evolução de um projeto, sendo portanto sistêmica e não cosmética. Encontram-se cerca de 50% das redes autônomas ligadas à Internet totalmente desprotegidas, taxa estável há algum tempo. Estas redes dificultam o combate aos crimes eletrônicos e estimulam atividades sem valores éticos (3). A falta de segurança nas redes é o principal motivo da quebra de privacidade. Cadastros confidenciais são copiados ou alterados e vendidos a terceiros.

-              Legislação. A grande questão sobre essa verdadeira invasão dos computadores na vida das pessoas e das empresas, é saber os reflexos dessa tecnologia no mundo jurídico. A Internet apresenta mudanças do conceito de “territorialidade”, espaço e tempo. O Código Penal Brasileiro data de 1940 e a instituição do Direito repousa na Roma Imperial. Vive-se hoje a experiência de ser adimensional: um rapaz filipino causa prejuízos de 7 bilhões de dólares ao mundo através do seu vírus e não pode ser punido. O FBI tem seu sistema invadido sistematicamente por hackers adolescentes – o tamanho não importa. O mundo clama regulamentações para essas novas práticas de vida, sob pena de transformar-se o mundo virtual em paraíso fiscal ou marginal. No Brasil existem tímidas iniciativas através de projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, todavia não atendem aos anseios dos usuários de computadores que esperam uma legislação forte e efetiva à prevenção, repressão e punição dos atos lesivos praticados por delinqüentes de informática (8).    



Diante do exposto, tem-se a sensação de incapacidade generalizada para administrar estes novos tempos de forma correta e segura. Não é bem assim, a maior parte dos problemas anteriores são de natureza marginal. Em uma sociedade saudável estas situações são pontuais e toleradas enquanto partem de homens que terão direito e possibilidade de regeneração.





Novos problemas oficiais:



Ocorre porém, que há condutas impróprias, inconseqüentes, tecnicamente deficientes e nocivas aos direitos do cidadão, que construídas em castelos tecnológicos de belas fachadas deixam as portas dos fundos abertas, por onde passam, ou podem passar, serviços doentios. Lamentavelmente esta situação está se incorporando a nossa vida sem que nos apercebamos, e partem tanto da iniciativa privada, quanto do governo.



Da iniciativa privada tem-se a possibilidade de consultar, via Internet:

-              Contas detalhadas de telefones celulares, ou extratos de cartões de crédito com informações confidenciais, digitando apenas o número do telefone ou cartão e mais alguns dados como CIC ou data de nascimento do titular.



Do governo tem-se exemplos mais lamentáveis:

-              A Declaração do Imposto de Renda, via Internet é uma facilidade para o contribuinte no sentido prático. Porém qualquer pessoa de posse de alguns dados pode fabricar a Declaração de outra e continuar anônimo. O contribuinte prejudicado, a essa altura, já sendo tratado como sonegador é que terá o ônus de provar que não partiu dele aquela informação e só terá conhecimento da situação quando já estiver na malha fina.

-              Outra situação igualmente preocupante advêm da Urna Eletrônica que colhe os votos eleitorais em todo o país. O fato de ter-se o nosso número do Título Eleitoral digitado pelo mesário na Urna Eletrônica, na mesma hora em que se vota, evidencia ao observador atento que o sagrado sigilo do voto está posto em dúvida. Ainda nesta urna, obrigam-nos a crer que o voto selecionado e exibido na tela da máquina é o mesmo que será gravado no ilegível disquete (aos nossos olhos). Tem-se o sigilo e a honestidade do voto transformados em crença quando deveriam ser garantias.



Vê-se a formação de grandes bancos de dados que não estão recebendo os devidos cuidados. É sabido do desvio de todas a Declarações de Imposto de Renda do ano de 1996, que chegaram a ter anúncio de venda em classificado da Folha de São Paulo. Também encontraram-se à venda cadastros de assinantes, com número do telefone, endereço e renda, de companhias telefônicas do Rio de Janeiro e São Paulo, etc (9).





O valor da informação reside em virar conhecimento.



A informática é um instrumento de poder visto que auxilia na produção do conhecimento. Informação corretamente aproveitada é bem patrimonial, é ativo de liquidez, é valor agregado às organizações porque vira know how. Informação privilegiada é garantia de retorno de investimentos em bolsas de valores e de mercadorias. Informação é a base para a tomada de decisões acertadas. Desenvolver conhecimento partindo de um universos tão rico de informações torna-se uma arte – necessita-se garimpar para separar o cascalho do ouro.  





A hora certa para o novo paradigma.



É linear o pensamento de que todo este aparato tecnológico aliado a mudança de valores deve trazer uma nova revolução e que o novo paradigma produza sociedades mais saudáveis, com menos mazelas e mais dignidade humana - afinal está-se evoluindo. Deve-se entretanto, lutar para que esta revolução vindoura encontre-nos organizados socialmente para que seja verdadeira e legítima.



Qualquer mudança revolucionária hoje, pegaria nossa sociedade brasileira despreparada e corresponderia a queima de etapas não amadurecidas. Independentemente de questões políticas correntes e de novos hábitos que merecem correções de rumo, tem-se de resolver questões antigas, enraizadas em nossa cultura, que nos passam a sensação de ter-se perdido o precioso tempo do amadurecimento social. E portanto deve-se correr atrás da justiça social.



A humanidade está assentada equivocadamente, em modelos reducionistas, inspirados em que a soma das partes correspondem ao todo. De tal inspiração surgem práticas lesivas ao desenvolvimento harmonioso. Hoje degrada-se para controlar: Transforma-se minerais em massas estéreis ou amorfas. Mineraliza-se vegetais através de viciosos sais fertilizantes. Vegetaliza animais retirando-lhes a mobilidade nos confinamentos abusivos. Animaliza os homens através da educação conformadora, da moda e de outros movimentos coletivos, onde a individualidade é vista como prejudicial e deve ser substituída pelo comportamento de manada.   





O que fazer? Faça a sua parte.



Deve-se usar todos os recursos, modernos ou não, para assegurar o desenvolvimento humano e social. Já que se dispõe de tanto conhecimento, abundantes recursos técnicos e financeiros, e goza-se de paz no planeta. Aproveite-se a ocasião para, através de movimentos individuais e conscientes, fazer a parte que cabe a cada um dos habitantes e a cada uma das instituições presentes aqui e agora.



Quando a organização social for tratada como organismo vivo, dotado de partes autônomas e suplementares, onde a arte, a cultura, a religião e educação alimentem com LIBERDADE nossos anseios anímicos-espirituais; as atividades políticas, jurídicas e legislativas regulamentem a sociedade com IGUALDADE; e a produção econômica atenda com FRATERNIDADE as necessidades naturais de todos. Aí sim, está-se pronto para as novas conquistas, pois realizou-se o empolgante lema (10). 



Será então a nossa vez de dizer, orgulhosamente: “A partir deste lugar e deste dia começa uma nova era para a história do mundo. Um dia podereis dizer – eu estava lá.”.  





Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe, através da Mesa Diretora,  inaugura uma lista de discussão na Internet, sobre problemas e soluções da relação “direitos do cidadão versus poder da informática”. Assim contribuímos para atualizar o conhecimento e a legislação. http://www.al.se.gov.br/

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Referências bibliográficas e notas:



(1)  Time-Life Books – História em Revista.

(2)   Costa, Marco Aurélio Rodrigues da. Crimes de Informática. http://jus.com.br/doutrina/crime.html

(3)  Rezende, Pedro Antonio Dourado de. Risco, Confiança e Responsabilidade numa rede global e aberta. Seminário Vinculado 2/99. Universidade de Brasília.

(4)  Campos, Roberto. “A nova economia”. Revista Veja 18/08/1999.

(5)  Teixeira Filho, Jayme. Mitos em relação à Tecnologia. http://www.informar.com.br/artigos/

(6)  Revista Info Exame. Julho/2000.

(7)  Campos, Eduardo Cestari. Nos porões da rede. http://www.jd.com.br/

(8)  Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa.

(9)  Infoseg – Laudo revela fragilidade de redes de telefonia. http://www.cert-rs.tene.br

(10)    Liberté, Egalité, Fraternité: (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) Lema e princípios da Revolução Francesa.

(11)    Vicentino, Cláudio. História Geral. Ed. Scipione.

(12)    Lanz, Rudolf. Nem capitalismo nem socialismo. Ed. Antroposofica.

(13)    Chevalier, Jean. Gheerbrant, Alain. Dicionário de Símbolos. Ed. José Olympio.

(14)    Michaelis. Moderno dicionário da língua portuguesa. Ed. Melhoramentos.

(15)    Revista Diálogo Médico. Maio/2000.


(17)    Eremkin, Tânia. Como a polícia desvenda o crime virtual. Jornal A tarde, caderno de informática, 19/07/2000.







Dedicatória

À minha esposa Cida e meus filhos André e Thiago, Companheiros de todas as horas.





Agradecimentos Especiais:

À Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe.

Aos companheiros da Associação Enial – Grandes Lutadores.

À Assembléia Legislativa do Espírito Santo.     




Este trabalho foi desenvolvido para apresentação no V ENIAL (Encontro Nacional de Informática Aplicada ao Legislativo) em agosto de 2000, realizado nas dependências da Assembléia Legislativa do Espírito Santo.

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